Provavelmente você já ouviu falar nas Plantas Alimentícias Não Convencionais. O termo PANC, criado em 2008 pelo biólogo e professor Valdely Ferreira Kinupp, se refere às plantas típicas de determinadas regiões, com crescimento espontâneo, habitualmente cultivadas na agricultura familiar de povos mais tradicionais, para consumo próprio.

O consumo das PANCs, embora seja difundido nas instituições de pesquisa, na imprensa, em agendas políticas e nas conversas corriqueiras sobre a megabiodiversidade brasileira, ainda é pouco feito com objetivos práticos de valoração e uso real desta riqueza biológica. A informação é da nutricionista Marjana de Mattos Favin, associada da Unitec.

Segundo ela, a definição de alimentação muda de acordo com o conhecimento da população sobre alimentação saudável e seus benefícios, e a procura por um estilo de vida saudável tende a levar as pessoas a buscarem diferentes formas de alimentação, considerando a funcionalidade e sustentabilidade. Diante disso, são perceptíveis mudanças profundas nas últimas décadas, levando o indivíduo ao retorno à vida natural.

“As plantas alimentícias não convencionais serviram para o sustento do homem desde a idade da pedra, e com o passar do tempo e o estilo de vida acelerado, os possíveis consumidores não encontram tempo disponível para colhê-las. Estas plantas se tornaram desconhecidas devido ao crescimento do consumo e o fácil acesso a alimentos industrializados. Porém, a maioria das pessoas não as reconhece, resultando no desuso, falta de produção e comércio. Estas plantas são recursos alimentares não convencionais que, quando consumidas, favorecem a autonomia das famílias e garantem soberania e segurança alimentar e nutricional”, explica.

A nutricionista destaca que as PANCs poderiam fazer parte do cardápio de consumo diário. Contudo, a falta de conhecimento leva a caracterização dessas plantas como ervas daninhas. “Deste modo, é essencial incentivar a produção e o uso dessas plantas, fazendo com que sejam consumidas pelas pessoas tanto na cidade como no campo, pois o aumento do consumo das PANCs pode favorecer a melhora da condição nutricional de indivíduos desfavorecidos economicamente nas áreas urbanas e rurais, em diferentes regiões do Brasil. Como forma de desenvolvimento sustentável, as tecnologias para o consumo de PANCs reduzem o desperdício de alimentos, aumentando o combate à fome e ampliando a obtenção de produtos funcionais”, acrescenta Marjana.

In natura ou refogadas: o preparo das principais PANCs
Marjana reforça que as PANCs podem ser inseridas para o consumo na alimentação de forma in natura, refogadas, na panificação, em doces e entre outras formas de preparo, tendo como partes comestíveis folhas, frutos, pólen, botões florais, flores, medula caulinar, raízes e sementes.

A associada da Unitec lista as cinco espécies de plantas não convencionais mais citadas nos trabalhos de pesquisa, cada uma com seus benefícios, valor nutricional e uso medicamentoso. Confira:

Beldroega (Portulacaleracea): Flores, ramos, sementes e folhas são comestíveis e podem ser consumidas cruas ou cozidas. Suas sementes podem ser substitutas da chia e do gergelim e os brotos são utilizados em saladas de decorações comestíveis. Excelente fonte de ômega 3, betacaroteno e vitamina C, possui ação antioxidante como anti-inflamatória diurética e vermífuga.

Capuchinha (Tropaeolum majus): Suas folhas, ramos foliares novos e flores comestíveis são aromáticos e de leve picância, podendo ser consumidos como condimento de carnes e outros alimentos, ou também como saladas cruas, cozidas e ensopadas. Suas folhas são utilizadas no tratamento de tosse, hemorroidas, diarreia e também como antiácido.

Língua-de-vaca (Rumex obtusifolius): Suas folhas podem ser consumidas cozidas, cruas ou em preparo de refogados, purês, cremes verdes e sopas. As folhas podem ser usadas para cicatrização de feridas, além de tratamentos gastrointestinais. As raízes apresentam potencial diurético e possuem elevado teor de zinco, magnésio, ferro, potássio e proteína.

Mastruz (Coronopusdidymus): São consumidas as folhas e ramos, semelhantes à mostarda, na produção de tempero, tanto cruas ou cozidas. Outras partes comestíveis são as flores e os frutos. São fonte de potássio e fósforo, além de possuir maior teor de mineral do que demais hortaliças convencionais. Contêm fibras, proteínas, lipídeos, carboidratos, vitamina C e betacaroteno e possuem óleos essenciais, que agem como antibiótico natural, além de outras finalidades medicinais.

Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata): Folhas, frutos e flores podem ser consumidos crus ou cozidos no preparo de saladas, refogados, sopas, omeletes e tortas, além de enriquecer pães, bolos e massas. A mucilagem presente nessa planta pode substituir o ovo em algumas preparações. Já os frutos podem ser usados em geleias, doces e sucos. As folhas têm alta palatabilidade, elevado teor de mucilagem e alto valor nutritivo e apresentam também 25% de proteína de alta qualidade. Possui aminoácidos essenciais como a lisina, em maior teor que a couve, espinafre e a alface, sendo rica também em ferro, magnésio, vitamina A, vitamina B9, triptofano, zinco e fibra.

“As PANCs são plantas de ótima qualidade nutricional, oferecendo um complemento alimentar rico. Apesar do baixo consumo e conhecimento sobre seus benefícios pela população, a inserção e popularização destas plantas na alimentação, na agricultura e na indústria, podem contribuir para a mudança do padrão de consumo, ajudar na conquista da autonomia, na preservação da biodiversidade e da cultura local”, finaliza a associada da Unitec.
 

Texto: Assessoria de comunicação Unitec
Jaqueline Peripolli / Jornalista MTE 16.999
Foto: Divulgação